PARTE II - ACTUALMENTE
No meu tempo , as coisas estavam mal, essencialmente, porque a educação ligada ao estudo, á frequência de um estabelecimento de ensino era um luxo, um privilégio, política que não necessitaremos certamente de comentar.
1-ENSINO SECUNDÁRIO
Hoje em dia , temos escolaridade obrigatória até ao 9º ano ( 4 anos de escolaridade básica + 5 anos de secundário). Para além do 9º ano temos a continuação do ensino secundário ( antigo Liceal), por mais três anos , respectivamente o10º e 11º e seguidamente o 12º para quem queira ingressar no ensino superior. Comecemos por analisar estes 12 anos de estudos preliminares.
A frequência escolar, até ao 9º ano inclusive é obrigatória e é simplesmente uma farsa infame. PORQUÊ??? Porque sendo as nossas leis muito estritas no que respeita ao trabalho infantil há que manter as crianças e adolescentes em qualquer lado, pelo menos até aos 15 anos de idade......daí a obrigatoriedade do 9º ano. Claro que, como todo o sistema educacional percebe isto, não há preocupação em saber se os alunos aprendem ou não alguma coisa. Para um professor do ensino oficial reprovar um aluno até ao 9º ano, quase que é preciso autorização ministerial.....( se calhar é mesmo...kkkkk)! Portanto a estes alunos pouco ou nada é exigido..... estamos cheios de analfabetos com o 9º ano.
Muitos, (diria a maior parte, ficam por aí....), outros seguem para o 10 º e 11º e alguns para o 12º, especialmente se tencionam continuar com o ensino superior. O 12º ano é , na minha opinião, pelo menos nas especialidades de ciências, ( matemática, física e química), bastante exigente. O salto dos anos anteriores para o 12º é enorme.... em conclusão, andamos 11 anos a pedir nada ou quase nada aos alunos, para de repente lhe pormos á frente uma matéria difícil, ( pelo menos quando comparada com o que estavam habituados), e nada lhes perdoarmos. Isto tem como consequência que as notas dos exames finais do 12º ano sejam arrasadoramente más.... Todos os anos temos a tragédia das classificações para entrada na faculdade........
2- ENSINO SUPERIOR
No ensino superior de base temos os graus de bacharelato e licenciatura, mas, em vez de entrarmos nesse assunto vamos explicar "umas coisas" : até aqui á menos de quinze anos atrás, só existiam em Portugal, estabelecimentos de ensino superior de carácter público, ou seja, o ensino superior estava vedado á iniciativa privada. Com o justo desenvolvimento das ambições das pessoas em termos de educação, as universidades públicas deixaram de ter capacidade de resposta e isso deu origem a várias coisas:
A - As universidades públicas introduziram o "número clausus", por exemplo, o IST, decidiu que não aceitaria , por ano, mais de 100 novos alunos em engenharia mecânica, e que esses novos lugares estavam reservados aos 100 alunos mais altamente classificados que concorressem para entrar....só os melhores tinham lugar portanto. Isto dá origem a que, por exemplo, um aluno que concorre com uma classificação do 12º ano de 15.6 V ainda entra porque é o centésimo na escala de valores dos concorrentes, mas um que tem "apenas" 15.5 já não tem lugar...( a escala de classificações em Portugal é de 0 a 20)
B - Isto deixava deixava dezenas de milhar de potenciais alunos, fora das faculdades, o que deu origem a que o governo desse luz verde á instalação de universidades privadas , que absorvessem esse excesso. Ora , á média de 560 $R, por aluno e por mês, isto era um excelente negócio para os privados, e as universidades e institutos superiores privados apareceram como cogumelos.... mas infelizmente cogumelos venenosos, como veremos adiante.
C - A maior parte das novas universidades privadas dedicaram-se a cursos onde é apenas necessária uma sala, lápis e papel, ( e, se possível , um professor, já agora....kkkkk), como as humanísticas, direito, etc. Só algumas se arriscaram a alguns cursos de engenharia, (daqueles que não exigem laboratórios), e quanto ás ciências médicas nem pensar........Por outro lado, praticamente não apresentam professores residentes, tendo um corpo docente recrutado a tempo parcial noutros locais , que só lá vai debitar umas horas de aula. Como em qualquer actividade privada normal, e sem que isso escandalize alguém, a ideia do lucro é prevalecente.
B - Ao contrário de muitos países em que o ensino universitário privado é que goza de prestigio, ( Yale, Harvard, MIT, Oxford, Cambridge....) e onde as famílias fazem significativos sacrifícios para mandar os filhos para essas universidades, quando os podiam mandar , quase de graça, para as universidades estatais, aqui passa-se exactamente o contrário : as famílias rezam para que os filhos sejam suficientemente bons estudantes, para que tenham boas classificações e consigam entrar numa universidade pública!!! Porque tem vantagens como : não ter de pagar as altas propinas mensais de uma escola privada, e ainda por cima, um individuo que se apresenta no mercado de trabalho com um diploma passado por uma universidade oficial tem muito mais credibilidade que aquele que apresenta um diploma passado por uma entidade privada.
D - As universidades privadas sofrem á partida de um tremendo "handicap" : Teoricamente recebem os piores alunos da população estudantil, porque os melhores conseguiram entrar nas públicas. Portanto o material de trabalho já tem pouca qualidade "per si". Por outro lado, não são completamente independentes nos seus juízos, porque são pagos pelos alunos....Isto não quer dizer que cometam a desonestidade de vender diplomas, ...não é isso que queremos dizer, mas sim que lhes é psicologicamente mais difícil a prática de determinada ética.
E - Entretanto verifica-se um "ataque" das universidades públicas ás privadas. As universidades públicas são subsidiadas pelo estado como sabemos e, uma das formas desse subsidio é em função do número de alunos....um tanto por aluno e por ano. As universidades públicas debatiam-se com falta de verbas para as suas tarefas de investigação, programas de doutoramentos, contratação de docentes, etc. Uma das formas que viram para obter essas verbas foi, é claro, aumentarem o "número clausus". Tendo mais alunos , teriam mais verbas. Todavia, ao fazer isso arriscaram-se a debilitar a sua qualidade.
Muito mais haveria a dizer, no entanto ficamos por aqui, com a noção de que, como consequência destas políticas, este pobre cantinho ficou inundado de licenciados e não sabe o que lhes há-de fazer....mas isso fica para a PARTE III
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