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A certa altura da minha vida profissional, fui responsável pela compra de um equipamento caríssimo para a fábrica. Estudadas várias propostas decidi-me por equipamento alemão. Fiz várias viagens á Alemanha, para afinar o fornecimento e, quando chegou a altura, uma equipe alemã, chegou a Portugal e começou a montar o equipamento.... Um espanto...excedeu completamente as minhas mais ambiciosas expectativas......
O conjunto era composto por enormes e pesadíssimas paletes de ferro de 4 x2 m, que circulavam sobre caminhos de rolos. Em cada palete era instalado um molde, de madeira ou resina das peças a moldar para depois serem vazadas em aço. Todo o circuito era controlado por um computador, onde eram programadas o nº de voltas que cada palete dava ao circuito. Completado esse nº de voltas, a palete recolhia automaticamente a uma linha de armazenamento lateral e outra entrava para o seu lugar. A coisa funcionava espantosamente bem.......O chefe da equipa alemã era o M... , um individuo já de idade, que causava inveja a muito rapaz novo, movendo-se com a agilidade de um macaco naquele enorme estaleiro. Saltava valas, subia por tubos, equilibrava-se nos caminhos das pontes rolantes.... onde fosse preciso lá estava ele.
O único defeito que tinha era o seu mau inglês...mas isso ultrapassava-se bem. Um dia, em conversa com outros engenheiro do estaleiro soube que o M... tinha uma perna amputada, perdida na guerra, e usava uma prótese....Perante aquilo eu fiquei banzado...banzado e envergonhado para falar verdade, pois ele nessa condições conseguia uma aplicação física que eu nem de perto acompanhava.
Quando foi a altura da aprovação final do equipamento, um dia solene, programei o equipamento e pus aquilo tudo a funcionar.....A certa altura digo para M..: “Agora , vamos tirar a placa 4 e substitui-la pela 9 que está em espera” . M.. olha para mim e diz-me no seu inglês macarrónico: “ Não pode porque programou a placa 4 para dar 10 voltas e ela ainda só deu 6!” “Está bem, programei a placa 4 para fazer 10 peças , mas agora quero tirá-la e pôr outra, como se faz aqui no comando central da instalação??? Resposta: “Não pode alterar...se programou para dez tem que ser
Resolvi convidar o M.. para almoçar, pois pela minha experiência consegue-se muita coisa á mesa. M.. bebeu e soltou-se, contando-me a sua história.....Tinha aprendido o pouco inglês que sabia quando os americanos o prenderam no fim da guerra pois ele pertencia ás SS...Logo que deu conta do que havia confessado, apressou-se com aflição a esclarecer que era das SS mas das tropas de assalto, e que nunca tinha estado nos “catzet” ( campos de concentração??? talvez). Tinha combatido na frente russa.... e aí solta-se novamente e diz: “Ficamos a
No dia seguinte havia outro ensaio do sistema , e mandei pôr numa das placas um molde de madeira velho , já sem interesse, e programei a placa para 10 voltas.... arrancamos e ficamos a controlar. Quando a placa passou á minha frente , á quarta volta, saco de um martelo que tinha atrás das costas e dou uma forte pancada numa flange arrancando-a. O M.. ficou a olhar para mim julgando que eu tinha enlouquecido e então eu disse-lhe: “ Vê M.., acidentes estão sempre a acontecer...e agora o que é que fazemos? Deixamos esta placa andar toda espatifada mais seis voltas.... isso é deitar dinheiro fora!” O M.. olhou para mim com um ar de estonteado e disse-me: “OK amanhã está resolvido!”
No dia seguinte, quando cheguei ao painel de programação, notei que havia um local onde figurava, algo de novo: uma fechadura embutida com uma chave....O M.. com grande cerimónia, retira a chave e diz-me: “Esta chave permite invalidar a programação estabelecida antes dela chegar ao fim e reprogramar.... mas esta chave é só para si , não é para mais ninguém....só o chefe é que pode modificar a programação e o que é programado é para ser cumprido.” Guardei a chave e prometi-lhe solenemente que só o chefe de produção teria acesso a ela.
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